Descrição do Reino de Portugal (1610)
Por Duarte Nunes de Leão
Descrição do Reino de Porugal Duarte Nunez do Leão, desembargador da casa da suplicação. Dirigida ao
illustrissimo & muito excelente sñor Dom Diogo da Sylva, Duque de Francauilla, Conde de Salinas &
Riuadeo, Presidente do conselho da coroa de Portugal. [Vinheta xilografada com o escudo das armas reais
de Portugal].
EM LISBOA. Impresso com licença, por Iorge Rodriguez. ANNO. 1610.
In 8º (de 18,5x13,5 cm) com [12], 161 [i. é 162] fólios
Importante subsídio para a historiografia portuguesa onde o autor transmite um conjunto alargado de
conhecimentos de várias àreas do saber com Direito, Geografia, Sociologia, Economia, História - e a obra
aparece-nos redonda e completa sem que pareçam faltar mais capítulos. Inicia a obra com uma explicação
do direito administrativo romano, as divisões e mudanças dos termos e limites dos círculos judiciais e o
que se acrescentou posteriormente, quando Portugal se tornou um país soberano. Segue-se a descrição
geográfica das cidades, vilas e rios da Lusitânia.” A partir da página 18, o autor apresenta a teoria do
direito romano que organiza os Jurídicos Conventos, os municípios de Direito do Lácio, os municípios de
Direito Itálico, o conceito complexo de Colónia Romana, as várias maneiras em que havia as mesmas
colónias e a presença de importantes colónias romanas em Portugal (como por exemplo Beja) das quais o
autor comprova a existência através de vestígios epigráficos e arqueológicos. Apresenta-se a partir do fólio
23 a descrição das serras e montanhas de Portugal, particularizando a Serra de Sintra com toda a sua
mitologia ligada aos cultos do Sol e da Lua. Os rios Tejo, Guadiana, Mondego, Zêzere, Lima, Vouga e
Douro apresentam descrições individuais e desenvolvidas com os seus afluentes e os locais dos seus
cursos. No fólio 40 são mencionadas as riquezas naturais e as produções em Portugal. Descrimina por
região as minas de ouro, prata, jaspe, turquesas e pirites, mas também as pedreiras e em particular as
que exportam as pedras das mós dos moinhos para as Índias Ocidentais e Orientais e até mesmo o barro
que é exportado pelo bom sabor e cheiro que confere à água armazenada nos potes. Também o sal, o
azeite e o vinho são mencionados (fólio 41) como produtos muito apreciados desde a antiguidade clássica,
considerando o autor que os vinhos são ?de carregação infinita?, isto é, produção ilimitada. Contém
capítulos específicos para o mel, a cera, o pescado, os cavalos e o gado em geral. No fólio 68 o autor
refere o sabor particular da fruta e da carne dos animais em Portugal. Por último, e mais curioso, o
capítulo das importações que os portugueses faziam e ?a razão que se podem chamar suas? às produções
das Índias Orientais e Ocidentais, da Etiópia, Arábia, Pérsia, China e Brasil, desde os diamantes, rubis e
esmeraldas, até ao almíscar, incenso, cânforas e frutas exóticas de todas as espécies, além do marfim,
lacas, anises, pasteis de todas as cores e especiarias em geral. No sentido da riqueza humana - que
existiu e existe em Portugal - o autor traça a biografia dos santos portugueses (começando pelo papa
português São Dâmaso), no entanto junta a esta lista ?varões ilustres que em todo o tempo teve? de
forma a não acontecer (cita o seu sobrinho no Prólogo) o que se passou com Diocleciano que mandou
queimar os escritos dos homens pios para que a ignorância acabasse o trabalho que a crueldade não tinha
podido. Por este motivo o autor inclui uma enorme biografia de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires que se
estende ao longo de 12 fólios (cerca de 23 páginas). Dom Frei Bartolomeu, contemporâneo do autor, não
era santo, mas o autor assim o entendeu e explicou toda a justeza de o incluir como santo. Segue-se outro
capítulo dos santos que não sendo portugueses morreram em Portugal. O penúltimo tema abordado pelo
autor (fólio 138) é o das mulheres portuguesas. O autor toma-as num estado de pureza, honestidade,
recolhimento e várias outras perfeições valorizadas na época.”
Exemplar ligeiramente aparado, esporádicas notas manuscritas não coevas, provavelmente do fim do
século XVIII , a mesma época que podemos datar a encadernação. Edição original. Raro e valioso.